Páginas

quinta-feira, 14 de março de 2013

"Qual o caminho da felicidade?"

Mente vazia. Não havia mais nada. Fora tudo engolido como um buraco negro, como um meteorito destrói uma cidade. Encontrava-se na escuridão. Por quê? O que fizera de errado?
Essa tortura não acaba logo. Clarice queria ir embora. O sinal iria bater meia hora depois. Estava perdida em seus pensamentos. Concentração, concentração! Não dá. Simplesmente: Não dá. Os minutos se tornavam séculos.
Finalmente fora do presidiário. Debaixo do sol do meio-dia, caminha até uma praça. Ir para qualquer lugar, menos para casa. Precisava somente... Pensar. Mas afinal, pensar sobre o que? Sua vida era sem graça – ou, como gostava de dizer, “sem sal”. Era um poço sem fundo e, por isso, não parava nunca de cair.
Sentou-se na sombra de uma árvore. Por um momento, pôde encontrar uma calmaria no meio de toda aquela turbulência. Ah... Quem dera se pudesse viajar entre as estrelas, conhecer todos os planetas, passear pelas galáxias. Ali pelo menos teria diversas companhias interessantes. Mais interessantes que pessoas.
Sempre fui isolada, não tenho amigos. Digo que são 16 anos de profunda solidão. Sonho alto, muito alto. Mas não me iludo. Minha sorte é exatamente essa. Ter um futuro brilhante e cheio de reconhecimento? Não. Vivo numa indecisão constante quando penso em que rumo seguir. Preciso de referências, mas não as tenho. Os pais trabalham em um bar de esquina. Não há diálogos na casa, não há nem sequer um gesto de educação e carinho. É cada um por si. Clarice – nunca teve apelidos legais - é filha única. Dizem que já é o “suficiente”, isso se não for até demais. Muita coisa pra cuidar, muita conta pra pagar, né Seu João?
Seria mais simples viver sozinha. Mudar de cidade, talvez. Conhecer novas pessoas, se tornar um ser humano melhor; ficar livre dessa vida sem destino, ir embora de um lugar que definitivamente não faz bem. É a solução perfeita... Pausa. A realidade é muito diferente. Com que condições isso vai ser possível?
- Eu só quero ser feliz... – uma lágrima cai.
- Por que não é feliz, menina?
Eis que surge um rapaz misterioso. Aparência magra, marcas invisíveis que a vida o deixou. Era tão jovem e ao mesmo tempo, aparentava ser tão sábio.
- Acho que pensei alto demais. Não é nada que tenha interesse em saber.
- Talvez eu possa lhe ajudar.
Clarice sentia uma vontade enorme de desabafar. Queria despejar tudo de seu coração, como se fosse uma cachoeira. Estava na beira de um precipício e de algum modo, sabia que se pulasse a seguraria lá embaixo.
- Eu só... Desejo saber o que um sentimento bom significa. Não faço ideia de como seja, por exemplo, a felicidade. Não acho solução. Minha vida é um verdadeiro caos.
Mostrava-se pensativo.
- Olhe... Cada sentimento tem um sabor pro coração... Alguns satisfazem tanto que queremos sempre ir à busca de mais. Outros nós não gostamos e fazemos o possível para fugir deles. Você deve saber bem como é isso: Querer encontrar a saída, mas não ver sequer um ponto de luz. Os momentos em que nos tornamos felizes ficam marcados e queremos sempre que eles voltem. Sabe que muitas vezes já fui assim? Pensava que estava completamente sozinho no mundo, sem apoio. Todos fazem o possível para fugir dessa situação e...
Passaram-se dois anos. Clarice está com 18, mora em uma cidade metropolitana e às vezes volta ao interior visitar os pais. Está fazendo estágio em uma das revistas mais vendidas da região. Sempre que pode escreve matérias sobre o mistério que o Universo transmite. É uma nova pessoa. Estava no horário de almoço quando todas as lembranças vieram à tona e lembrou-se do momento em que sua vida se transformou. Onde havia parado?
Aí bateu uma vontade maluca...
- Espere, onde está indo? – disse o rapaz.
- Estou indo ser feliz!
Flavia Rossini. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário